Tudo se transforma a todo instante. Tanta informação, tanta gente pesquisando, falando, expondo. Podcasts, filmes, séries, documentos, blogs, newsletters, empresas, novidades, Instagram, tik tok, YouTube, mid journey, ChatGPT. Guerra, trabalho social, catástrofes climáticas, salvamento de baleias. Tendências, desenho paramétrico, robôs pensantes, economia circular, geração de lixo, ódio, preconceito, terapias holísticas, retiros, amor livre, poliamor, crianças nascendo, cura de doenças, advento de cirurgia plástica, um exército de depressivos. Inteligência artificial, mendigos nas ruas, realidade aumentada, feminicídio, almas livres.
De uma coisa tenho certeza: nunca antes, nesse nosso recente recorte histórico, se teve tanto acesso a tantos acontecimentos simultâneos e contraditórios. Particularmente, tenho a certeza de que tudo está a um clique de distância de mim, seja o que for, não há mais aquela ideia de que algo seja impossível. Nesse sentido, sinto também que não há nada que me limite. Com tantas ferramentas, só depende de mim conseguir o que quero através delas.
Parece fascinante? Pois não é.
Qual o custo da possibilidade infinita? Até que ponto essa ilusão de que se pode ser tudo acaba nos tornando nada? Sinto que ao querer ser tudo, ou querer entender de tudo, saber, ler, estudar, compreender, esqueço de olhar para o meu nada enquanto paradoxalmente me torno nada para o mundo. Existe em todo indivíduo um nada interno, que foi colocado ali não por acaso. Assim como o oco de um bambu, que não tem contato direto com o mundo externo, em cujo interior habita o nada que veio desde suas raízes, de dentro daquilo que o gerou; nesse nada, o externo não bota a mão. Nosso nada também não se conecta ao exterior. Nele, é onde conversamos com aquilo que vem de dentro, que nasceu dentro e se manterá dentro. Aquele espaço divino e silencioso que passa reto pelo mundo e se conecta diretamente com o próximo nada: o universo. É um nada dentro de outro. Um vazio. Um intervalo que independentemente de gerações, tecnologia, possibilidade ou pressa, nasceu com a humanidade, e nela ficará até nos darmos conta de que é esse nada que, de fato, é tudo.
Ressoando com Fernando pessoa quando diz
´´Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.´´
As coincidências de caminhos e rotas. Até que ponto partem de mim? Isso já e fruto da manipulação tecnológica da intimidade? Porque vejo tantas coincidências acontecendo ao meu redor? De interesses, de assuntos, de conteúdo. Não sei, realmente não sei dizer mais o que sou eu e o que não sou. O que reverbera em mim e me comove pode ser implantado ou manipulado? Afinal a experiência humana necessariamente precisa de uma centelha divina? Ou seria possível recriar essas experiências de forma racional e lógica? Com inteligência computacional? A que ponto profundo de dúvida cheguei. Não parece real que isso esteja acontecendo. Mas de qualquer forma, ainda acredito em minha intuição e em minhas reflexões e insights. De algum lugar minhas perguntas vem. Não acredito que sejam 100% implantadas pelo externo. Mas sim acredito que estou longe de estar imune. Acho que me retirar nao é a solução, mas sim me vacinar. Continuar na busca pelo acesso ao meu oco divino, para que possa colher cada vez mais as informações puras e nao contaminadas pelo externo e material.