Entendo muito bem quando John Hardy fala sobre as curvas na arquitetura. Locais retilíneos e com muitos ângulos retos não deixam a ideia circular. Barreiras veladas não só interrompem o olhar como também os sonhos, as esperanças. Concreto e metal nos fazem sentir aquém do que realmente somos. Materiais sintéticos nos fazem querer ser sintéticos também.
A curva tem um quê de infinito... não necessariamente se sabe onde ela começa e onde termina; onde ela está correta ou onde possui algum desvio; se a geometria formada era aquela mesma ou se foi um improviso. Por isso, ela também honra a incerteza. Ela honra a experimentação. Estar diante dela é estar diante de nós mesmos. Eu também não sei onde começo e onde termino, não sei se o que sou hoje era para ser assim ou se foi projeto do acaso ou de uma curva improvisada. Mas ela é linda. Preciso me colocar diante de coisas lindas. De coisas nas quais possa me reconhecer. Sejam pessoas, edifícios, paisagens. Quero pertencer. Se sou linda e bela, quero estar em meio ao lindo e belo também. Se sou incerteza, quero me abrigar em algo incerto também. Se meu sonho é grande, não quero guardá-lo em ângulos retos.
Num devaneio sem pretensão, acabei por encontrar um grande tesouro: o encantamento. Está explicado porque gosto de natureza, porque gosto do bambu, porque gosto de pessoas cujos caminhos coincidem com o meu. Porque tudo isso é parte de mim. E, quando aqui dentro fica solitário demais, quero poder desfrutar da minha parte que extrapola o casulo do eu, a parte que se manifesta no Eu.
Não há nada de errado em partir em busca dos meus lugares. É tão comum quanto seria uma pessoa que perdeu um dedo querer ir buscá-lo de volta. São partes, nuances de mim.
Para que eu possa me completar quando por algum motivo algo aqui dentro não encaixa, devo poder buscar um pouquinho de "eu" por aí.